Não sei o que é este movimento
que acontece em mim de cada vez que desapareço. O mundo deixa de me encontrar e
eu sento-me e espero. Trespassam-me as pressas dos outros que me não vêem e me
atravessam como se nada estivesse no seu caminho. Como se eu não estivesse no
seu caminho. Como se eu não existisse junto deles.
De cada vez que desapareço, o
mundo deixa de me saber e eu sinto a liberdade de poder ser qualquer coisa para
além disto. Revejo-me fora do que existe em torno de mim e sobrevoo tudo o que
acontece como se não estivesse.
Vivo sem viver. Existo sem
respirar. Quedo sem sequer conseguir andar. Não sei o que é isto que acontece
em mim mas encerro as muralhas que durante anos construí e fecho-me na torre. Nada
me toca aqui. Nada me pode ferir aqui. Olho quem passa e quem me ultrapassa com
a mesma inocência com que me vejo a morrer. Sou uma sombra do que resta
acontecer em mim e espero enquanto o mundo fica cego do meu respirar e me
abandona na esquina da vida que fica inteiramente por viver.
És sublime
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