02/03/2016

en pAssAnt


Não sei o que é este movimento que acontece em mim de cada vez que desapareço. O mundo deixa de me encontrar e eu sento-me e espero. Trespassam-me as pressas dos outros que me não vêem e me atravessam como se nada estivesse no seu caminho. Como se eu não estivesse no seu caminho. Como se eu não existisse junto deles.

De cada vez que desapareço, o mundo deixa de me saber e eu sinto a liberdade de poder ser qualquer coisa para além disto. Revejo-me fora do que existe em torno de mim e sobrevoo tudo o que acontece como se não estivesse.

Vivo sem viver. Existo sem respirar. Quedo sem sequer conseguir andar. Não sei o que é isto que acontece em mim mas encerro as muralhas que durante anos construí e fecho-me na torre. Nada me toca aqui. Nada me pode ferir aqui. Olho quem passa e quem me ultrapassa com a mesma inocência com que me vejo a morrer. Sou uma sombra do que resta acontecer em mim e espero enquanto o mundo fica cego do meu respirar e me abandona na esquina da vida que fica inteiramente por viver.

1 comentário: