24/01/2016


Desta vez talvez vá começar pelo fim. Pego no término das coisas que foram e começo do princípio. Apago o quadro de ardósia e mergulho as mãos no giz. Balanço-me sobre as arestas das certezas incertas e deixo-me cair no chão.

Não importa se faz frio agora. Abro os olhos e sei o caminho. Recomeço do princípio. Desta vez não vou ter medo. Basta começar por um qualquer lado, basta acertar o passo. Não vou pedir-te para esperares por mim nem que teu passo chegue ao mesmo tempo que o meu.

Desta vez vou começar por onde devo começar. Pelo fim das coisas que podiam ter sido. Pego nelas, com a liberdade que fica nas coisas que se amam até ao fim dos dias, e farei de tudo para que não quedem, para que não cessem de existir em mim.

Desta vez talvez vá começar por mim. Talvez não olhe para trás para ouvir as mesmas melodias. Vou deixar o lugar em que me deixaste de todas as vezes em que não estavas e vou ser eu sem ser mais ninguém em mim. Desta vez vou começar em mim para chegar ao lugar em que tudo acontece.

Não importa se a maré está baixa e não importa se morro amanhã. Escondo-me por detrás da névoa que a madrugada encerra sobre si até que o dia desperte dentro do que podemos ser.

Deixa-me regressar a mim. Desta vez recomeço aqui. Nada ficará ao acaso. Nenhuma letra de nenhuma palavra cairá por terra. Desta vez eu não cairei por terra.

Sobrevivi às tempestades de areia que me assolam o deserto que existe em mim. Sobrevivi à ausência do que resta de mim e reencontrei-me nos lugares dos passos que só a dança pode devolver à minha existência. Hoje danço sobre mim e é aqui que começo.

Desta vez talvez vá começar do princípio das coisas que nunca terminaram em mim.

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