Caminho dentro da minha solidão. Atravesso
a praia antiga ignorando todos os gestos dos outros. Reconheço as suas vozes e
assumo a surdez plena de quem já não está. Interpreto os gestos nas suas histórias
de serem quem são, naquele preciso momento, e remeto tudo para um lugar fechado
em que nada, para além de mim, pode acontecer. Caminho a minha solidão inteira
no bater das ondas de inverno. Gaivotas caminham a meu lado como se soubessem o
segredo que se me desfaz na pele. O silêncio que vem do mar abraça-me de
deixa-me cair na areia. Só até que o momento cesse e eu desapareça por completo
sou o segredo do que resta do caminho que atravesso. A chave para ignorar o que
a vida transporta dentro destes corpos que partilham este espaço com a minha existência.
Queria poder, por um momento, esquecer a minha humanidade e ser-me a espuma que
a onda entrega à areia fria. E esse seria o auge da minha caminhada.
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