31/01/2016

pRaia


Caminho dentro da minha solidão. Atravesso a praia antiga ignorando todos os gestos dos outros. Reconheço as suas vozes e assumo a surdez plena de quem já não está. Interpreto os gestos nas suas histórias de serem quem são, naquele preciso momento, e remeto tudo para um lugar fechado em que nada, para além de mim, pode acontecer. Caminho a minha solidão inteira no bater das ondas de inverno. Gaivotas caminham a meu lado como se soubessem o segredo que se me desfaz na pele. O silêncio que vem do mar abraça-me de deixa-me cair na areia. Só até que o momento cesse e eu desapareça por completo sou o segredo do que resta do caminho que atravesso. A chave para ignorar o que a vida transporta dentro destes corpos que partilham este espaço com a minha existência. Queria poder, por um momento, esquecer a minha humanidade e ser-me a espuma que a onda entrega à areia fria. E esse seria o auge da minha caminhada.

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