28/01/2016

princípio do mundo


Quero silenciar as vozes que desesperam dentro da minha memória do tempo. Navegar à deriva num barco sem vela abandonado sobre as vagas na tempestade das ausências. Afogar-me na lâmina do frio da solidão que começa com o princípio da noite. Devastar-me no peso inteiro das coisas por saber. Segurar na ponta da tua pele e reconhecer-me absolutamente despido sobre a solidão da minha própria ausência.

Queria poder encontrar-me nas vozes que sussurram todos os nomes de todas as coisas dentro de mim. Segurar-me no abraço das letras caídas sobre muros ruídos nas chuvas que avassalam a minha estrutura. Desesperar-me na imensidão do vazio que se abre sobre o fim das coisas que começaram aqui. Voltar-me para dentro até me ver reflectido no espelho da água parada de uma qualquer maré fria da madrugada. Vestir-me de capim e sussurrar-me na pele a minha própria distância. Quero ser o que resta de mim até desparecer.

Quero silenciar-me dentro de mim e abandonar-me na maré. Só até reencontrar o princípio do mundo.

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