Estou quase a chegar. Demoro-me
na noite mais do que o que devia e depois perco-me. Acabo sempre por me perder
da noção, por me evadir do tempo. Demoro-me na intenção de ti mais do que o que
podia e depois afogo-me. Desfaço-me em mim mais do que conseguiria se quisesse,
verdadeiramente, desaparecer. Estou quase a chegar. Todos os movimentos que
faço são lentos no gesto mas cheios na vontade. São vazios no conteúdo mas
estruturados na forma. Existem sem serem. São, na verdade, sem existirem. Meros
reflexos da minha ansiedade que deposito em eventuais imagens - eventualmente
reais - da memória da infelicidade de ser o meu próprio acto falhado. Repito, para mim mesmo, que estou
quase a chegar. Lembro-me de alguém a corrigir-me as palavras – não, os erros –
não, as lacunas – não, os esboços – não, o sangue –não, as palavras mesmo e
esqueço do que deixei escrito nas paredes – não, no chão – não, no cimento-
não, na calçada onde o resto da minha dignidade desapareceu na intenção de ter
chegado a tempo de abraçar o sono.
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