07/07/2015

soNNo

Estou quase a chegar. Demoro-me na noite mais do que o que devia e depois perco-me. Acabo sempre por me perder da noção, por me evadir do tempo. Demoro-me na intenção de ti mais do que o que podia e depois afogo-me. Desfaço-me em mim mais do que conseguiria se quisesse, verdadeiramente, desaparecer. Estou quase a chegar. Todos os movimentos que faço são lentos no gesto mas cheios na vontade. São vazios no conteúdo mas estruturados na forma. Existem sem serem. São, na verdade, sem existirem. Meros reflexos da minha ansiedade que deposito em eventuais imagens - eventualmente reais - da memória da infelicidade de ser o meu próprio acto falhado. Repito, para mim mesmo, que estou quase a chegar. Lembro-me de alguém a corrigir-me as palavras – não, os erros – não, as lacunas – não, os esboços – não, o sangue –não, as palavras mesmo e esqueço do que deixei escrito nas paredes – não, no chão – não, no cimento- não, na calçada onde o resto da minha dignidade desapareceu na intenção de ter chegado a tempo de abraçar o sono.

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