Pisa-me nos
passos. Repete-me nas palavras. Ama-me nas noites finitas. Guarda-me nos
segredos mais profundos. Navega-me no deserto. Repete-me nas palavras. Transfere-me
nos gestos. Agride-me na dor. Cala-me na agonia. Aniquila-me no teu corpo
vazio. Devasta-me na embriaguez da tua solidão. Solidifica-me na minha
incapacidade. Ama-me nas noites acabadas. Entrega-me aos corvos e às marés. Dá-me
o que te resta e desaparece. Pisa-me nos passos apagados na areia que se não
move mais. Transpira o teu odor na minha pele. Move-te sobre mim até eu morrer.
Afasta-me de tudo o que não interessa para nós. Remete-me ao lugar das coisas
por saber e dá-me o que encontrares. Segura-me na tua angústia enquanto eu te
ancoro. Navega-me na minha solidão até eu me esquecer de mim. Ama-me até não
haver mais tempo. Descobre-me nas preces mudas e nas palavras velhas. Desvela-me
na invencibilidade da tua alma e deixa que eu te prometa nunca partir. Sonha-me
nas noites de chuva e ama-me na eternidade do inverno que se abre em nós. Leva-me
de cada vez que fores para regressares sempre ao lugar em que aconteces em mim.
Lava-me no rio salgado e sente as marés que te afagam na certeza de mim. Guarda-me
nos teus sonhos e ama-me. Solidifica-me na tua capacidade. Perdoa-me na dor de
ser eu em mim e lambe-me as feridas com o sal da tua alma. Respira-me de cada
vez que inalares e sente-me a ser tudo o que acontece em ti. Eleva-me ao
expoente máximo da certeza e deixa-me repousar. Acredita-me de cada vez que te
amar nas noites cegas e toca-me para te saberes infinitamente aqui. Permite-me
voar sem que te movas. Sente-me a guardar tudo o que te faz ser em ti e verás
que sou o lugar em que podes sempre voltar a terminar e a recomeçar. Canta-me
nas madrugadas em que todos os pássaros te entoam e não terás dúvidas do quanto
te amo. Cansa-me com as tuas palavras e faz-me correr sem parar. Ouve-me a
sorrir de cada vez que te vir entrar. Navega-me no deserto da minha solidão e
não permitas que me perca de ti. Embala-me na tua poesia e deixa-me ser quem sou.
Escuta-me enquanto choro e meu pranto será teu farol. Guarda-me nos teus sonhos
e existe-me. Sente-me de cada vez que te perderes e reencontrarás o caminho. Levanta-me
de cada pedra do caminho e chama-me pelo nome. Guarda-me nas tuas feridas para
que as cure sem que o chegues a saber. Respira-me de cada vez que perderes a
vontade. Afasta-me dos corvos e deixa-me nas marés. Rouba-me as estrelas e
dou-te o universo. Segura-me na tua imensidão e permite que descanse. Eleva-me
na tua agonia e deixo-te gritar até à extenuação. Segura-me nos gritos e
guardo-tos no silêncio de mim. Descobre-me nas preces cegas. Dou-te o que me
resta e permanecerei, para sempre, aqui.
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