Há um silêncio diferente quando a
dor cessa de doer. Segura as sombras com os dedos e vê o silêncio que
permanece. Inala o fumo que atravessa a madrugada e sonha com o que rasga o
tempo e se torna eterno. Não questiones a ordem de tudo o que acontece em torno
da tua solidão. Repara os erros e remete tudo para o lugar mais brando da tua angústia.
Silencia o fervor que te atravessa o respirar. Segura-te nas sombras que os
teus dedos reproduzem nas paredes brancas e evita o que não consegues ver. Recorda
cada palavra que sabes como certa e sente tudo o que o mundo te oferece. Não hesites.
A dor cessa de existir assim que a deixares de a saber em ti. Procura-te nas
memórias do tempo que já não pode ser e encontras coisas que ainda faltam. Abandona-te
nas ruas vazias da noite da cidade para te reencontrares no lugar certo. Segue,
ainda que teus pés dancem despidos sobre o asfalto aquecido pelo terror do
verão, sem parar nunca. Até chegares ao rio. Até chegares ao silencio que vem
com o início da manhã.
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