06/11/2009

nasceste do lado errado da vida. há quase meio século. aqui ou ali, não importa.
nasceste do lado errado da vida. quando te pegaram. quando te trouxeram. neste ou naquele momento, não importa.
certo é que ficaste errado. ficaste condenado.
porque há condenação e pena na dor de não ser certo. de não ser completo. de ser diferente.
nasceste há quase meio século zé. e resistes. lutas dentro de ti para que eu e os outros te reconheçam, te saibam, te compreendam e ouçam no mais profundo dos silêncios que vem com a incapacidade de comunicar.
sei que não é aqui que desejas estar que compreendes a imensidão do mundo que desconheces em absoluto e não guardas mágoa. de coisa nenhuma. nem um pouco.
sabes as coisas todas que não eu não sei nomear. sabes mais do que eu alguma vez vou saber e nada me resta senão ouvir-te dentro do silêncio do teu silêncio. entender-te dentro das tuas mãos perdidas nos gestos, nos teus dedos emagrecidos e no teu corpo sem forma. resta-me querer-te bem. garantir-te que voltarás, em breve, muito em breve, ao lugar que conheces dentro do teu olhar e deixarás de ter tanto medo.
resta-me isso e tu sabes que isso será o suficiente.

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