17/11/2009

"It's a wonderfull world"

Hoje ensinaram-me uma coisa:

que não nos devemos queixar do que acontece na nossa vida porque há sempre alguém que consegue estar ainda pior.

O que não deixa de ser verdade.
Por vezes as pessoas sobrevalorizam problemas, dores, sentimentos, rancores. E muitas vezes estão só a perder energia, a desgastar-se. A ficarem cada vez mais vazios e cada vez menos felizes.
A pessoa que me ensinou isto hoje utilizou uma comparação interessante e fez uma reflexão ainda mais interessante.
Ela explicou-me que, recentemente, havia assistido a uma reportagem na televisão sobre o Sudão e as condições de existência (ou será subsistência?) a que as pessoas estão sujeitas. Referia-me que uma senhora – de idade indecifrável – após ter visto assassinar o seu marido, o seu filho mais velho e a sua filha, lutava desesperadamente por salvar a sua criança pequena – perto de 2 ou 3 anos. Esta criança, no dia do massacre, foi mandada pela mãe correr, correr muito, e por isso sobreviveu. Hoje, esta mulher sem idade, vive numa tenda numa área de refugiados – descreveu-me como sendo uma tenda de 2 paus e um pano a cobrir - e, religiosamente, de cada vez que a chove, utiliza a lama para fazer pequenos tijolos – que descreve sem forma, frágeis, sem suporte - e que os coloca em forma de muro a cinco passos da sua cabana. Esta mulher crê, piamente, que serão esses tijolos em forma de muro que lhe permitirão fugir quando “eles” voltarem. É esse muro que vai salvar o seu filho porque lhe vai permitir ter tempo de correr. Mas esta mulher deseja encerrar o muro em torno da cabana. E ficará sem ter por onde sair. Acabará encerrada sobre si mesma e sem possibilidade de fuga.
Quem me disse isto hoje entende que o desespero desta mulher lhe roubou toda a capacidade de reflectir e de pensar. O medo desta mulher cegou-a de esperança e de liberdade.
Quem me disse isto hoje disse-me, também, que quem não entende que tem uma opção para além das outras – a opção de escolher deixar de escolher – perdeu a sua liberdade. Quem não consegue, por via do seu sofrimento, ver a saída última, o último reduto, a possibilidade de escolher deixar de sofrer, está privado da sua liberdade. E isso, na sua opinião, é maior que qualquer sofrimento que ela – a pessoa que me disse isto com lágrimas nos olhos – possa sentir.
E isto valerá o que vale.
Mas isto foi importante ter aprendido hoje.

1 comentário:

  1. ...a visão que temos da compreensão que fazemos da existência encaixa-se na luneta binocular que a compreende, entre o nosso astronómico problema e a nossa homúncula minudência...

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