09/10/2009

quartafeira

A manhã começou da mesma maneira que todas as manhãs começam. Lenta. Difícil. Áspera.

Podia não haver sequer uma réstia de vontade mas a rotina impelia, cuidadosamente, para o acto de acordar. De levantar. De iniciar a frequência cardíaca a um nível suficientemente aceitável para se fingir que se consegue fazer tudo o que deve ser feito.

O corpo erguia-se da mesma forma. Lentificado nos gestos, áspero no toque, difícil no escutar. Nem uma palavra seria a possibilidade de perfeição no caos. Se não dissesses uma única palavra poderia fingir ser capaz.
Quase tão certa como escorregar e cair era a minha incapacidade de dialogar como se o acto da fala me soubesse a cortiça dentro dos lábios, na saliva, nos dentes.

Decidi mergulhar na água e retirar de mim o que restasse de ti. Devagar. Não porque o corpo ou a vontade ainda estariam junto à lentidão dos teus gestos, mas porque talvez sejas um lugar onde a minha pele cabe num movimento de dança quase, mas apenas quase, perfeito.

2 comentários:

  1. "Lentificado nos gestos, áspero no toque, difícil no escutar."

    Um regresso parido do silêncio de tanto tempo, de tempo lento, de tempo na experiência, de tempo de percepção... regressa!, não te importes se perfeito ou imperfeito, regressa tão-somente com aquilo que foste e com aquilo que chegas, o meio não importa - parece realmente nunca ter importado: recordaste de tantas idas e vindas, de tantos desvios e extravios, de tanto saber que esquecer... -, ficará sempre "tal-vez"...

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  2. e editar um livro de crónicas, não?!!

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