26/10/2009

eucalyptus

cheira a eucalipto. as folhas e os frutos no chão onde arrasto os dedos.
não reconheço a imagem de lisboa nestes cheiros.
cheira-me a um lugar junto da minha terra. junto do mar. não daqui.
às vezes não me reconheço nesta cidade mas também não me encontro noutro lugar.
respiro lisboa com cheiro a eucalipto e finjo estar noutro lugar mais próximo da terra. mais próximo da capacidade de respirar. mais próximo do que fui.
hoje sou o que resta de uma folha de eucalipto deitada sobre o chão e fustigada pela chuva e pelo prenúncio do inverno.
hoje não sou nada disto que o reflexo desta cidade deita sobre o meu olhar. não sou rigorosamente nada disto mas também não sei mais do que isto.
talvez por hoje seja o suficiente saber tão pouco. apesar de saber que, na verdade, é absolutamente insuficiente saber - assim - tão pouco.
amanhã não haverá mais esta folha no chão e o meu reflexo terá cheiro ao sabor desta cidade. amanhã saberemos mais um pouco de qualquer coisa que hoje o mar não trouxe a este lugar esquecido na terra.

1 comentário:

  1. só sei até ao limite do meu corpo - no dedo esticado - e mesmo aí ainda hesito, ainda fico com tonturas perante o abismo, o sem fundo que se vê transfigurado em limite. Sou essa Lisboa que partiu na Caravela e que ficou a dizer adeus nas portas do Mindelo.

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