13/10/2009

I hate mondays

Há dias assim:
Acordas tarde. Tropeças na roupa que deixaste atirada para o chão. Lavas a cara. Desodorizas-te à imagem e semelhança de um gato (não há tempo para mais). Vestes a primeira coisa que te aparece (não do chão, da gaveta, do armário). Sais a porta e verificas (pouco cautelosamente para não doer tanto) que te esqueceste de cerca de ¾ das coisas que necessitavas, impreterivelmente, levar.
Voltas atrás na expectativa vã de que não demores mais do que 30 segundos a recuperar tudo o que já devia estar nas tuas mãos.
Verificas (vergonhosamente) que levaste mais de 10 minutos à procura das coisas que já nem te lembravas quais eram e acabaste por sair de casa, novamente, já com apenas 2/4 do que era preciso. Já não importava. Seguias assim.
Metes-te no carro na ilusão de que vais chegar, miraculosamente, por obra e graça do espírito des-santificado, quase à hora prevista. Numa rapidez incrível compreendes que é impossível. Como tu, estão agora centenas de milhares de pessoas a tentar vencer a mesma ilusão. Não funciona. Um a tentar quebrar o sistema era aceitável, tantos não dá.
Pões o rádio mais alto para ouvires uma qualquer música que te inebrie os sentidos e f**** começam as noticias.
Apercebes-te que o mundo não é de relevância absolutamente nenhuma para ti. Não queres saber. Simplesmente não queres saber. E isso não te preocupa. Acabas por saborear o momento de um zapping frenético por entre todas as ondas hertzianas (ou seja lá o que chamam a isso) e não ouves nada. Estática. Ruído. Não queres saber.
Quase que pensas que o melhor era fechar os olhinhos e fingir que ainda estás no quentinho da caminha mas depressa um macaco qualquer metido à besta quase roça o chassis do seu automóvel no teu e esqueces a possibilidade de sossego. Avanças.
Chegas tarde. A más horas. De sonos trocados. (mas ao menos levas os 2 sapatos iguais…já não é mau).
Sentas-te na secretária. 1000 recados. Nenhum bom (tentas não questionar a lei de murphy metida ao barulho).
Atiram-te à cara os erros. Os enganos. As más interpretações (quem é que não entendeu o quê?) Deixas cair tudo como se as tuas mãos fossem areia. Não reconheces o acto de segurar. Preocupas-te que o mundo acabe nesse momento e tu não tenhas rigorosamente nada nas mãos por uma total e absoluta incapacidade de agarrar!
Ouves os zumbidos das vozes que se não silenciam nunca. Tudo te parece absoluta e terrivelmente insuportável.
Ninguém te olha nos olhos.
Ninguém te segura nas mãos.
Ninguém dá importância ao tsunami que está a chegar na tua cabeça e tudo parece que aconteceu exactamente ao mesmo tempo.
Tudo o que não é bom. Tudo o que de menos bom poderia acontecer (apuras o sentido melodramático da ironia e elevas tudo à 5ª casa na tentativa de impor um sentido matemático à situação).
Se tentas correr, tropeças.
Se tentas dialogar, gritas.
Se procuras música, há silêncio.
Se tentas andar, mandam-te saltar.
Se seguras, cai.
Se cai, não consegues pôr de pé.
Se evitas, estragas.
Se não evitas, estragas na mesma.
Por mais que tentes fazer bem sai mal.
Questionas o sentido de te teres levantado à pressa. Se deverias (sequer) ter-te levantado.
E consideras: o filho da puta do gajo lá de cima tem um sentido de humor apurado!

3 comentários:

  1. E sorrir enquanto um espasmo te percorre o corpo e evaporas em gotícolas, do teu corpo exangue, toda a insustentável poeira que carregas e que ilusoriamente te assegures pertencer-te...
    Ora aí está o humor do FP lá de cima que apenas anseia que te bronzeies na realidade que nasceste para iluminar...

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  2. As minhas 2ªs feiras geralmente são esse filme ... se não for todos os dias assim ...:/

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  3. Bom acho que me revi...nunca tinha pensado nisso com as palavras tão certas...

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