20/10/2009


Podia ser apenas um minuto até poder atravessar a rua. Mas não esperei.
Podia ter esperado um minuto. Mas não. Tentei.
Os passos do caminho impeliram-me para a frente e fui.
Não tive medo. Nada. Fui.
Tudo pareceu demorar uma eternidade. A eternidade em que me sou sem saber mais nada para além desta incontrolável necessidade de avançar.
Os dias e os anos passaram-me pelos dedos das mãos pelas mãos dos dedos por todo o corpo do corpo.
Atravessei como se atravessasse o tempo. Como se não atravessasse nada menos que o tempo e o tempo a parecer ser tanto que não cabia no momento.
Os passos no caminho impeliram-me para a frente e fui.
O corpo pareceu-me demasiado grande e imperfeito para permanecer ali. Tudo me parecia disforme e (des)desenhado numas linhas invisíveis que faziam tudo parecer desproporcionado.
Podia ter fechado os olhos se quisesse. Podia ter não ter visto nada de mim mas ainda assim fiquei com o olhar fixo. Como se não visse o que não podia ver ou como se visse tudo o que não devia naquele preciso momento encontrar frente a mim. O corpo a não caber no momento.
O corpo a deixar de existir no momento em que decidi fechar os olhos por já não ver.

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