11/10/2009

IluSãO

O lugar que o tempo ocupa em nós agora não é mais do que o reflexo da tua distância.
O lugar que ocupas em nós não tem espaço. Não tem dimensão. Não está, simplesmente. Não está.
Ergo-me como se fosse feito de pedra e olho-te de frente enquanto caminhas.
Tu de costas a andar.
Eu de pé a ver-te partir e a sentir que nada mais no mundo poderá, vez alguma, vir a ter qualquer tipo de importância.
E o mundo podia acabar ali. Naquele momento em que te vejo desaparecer da possibilidade de mim. E não acaba. Não consegue acabar. O mundo. Eu.
Do pó de pedra que reside dentro do meu corpo consigo o acto de cerrar os olhos e apaziguar a dor. Deixo de te ver. Isso basta. Deixas de estar aqui. E isso é o suficiente para que eu compreenda que qualquer ilusão é possível desde que a desejemos muito. Muito. Talvez até num acto irreflectido e inconsciente de excesso.
Não temos um lugar aqui. Neste mundo. Tudo isto foi ilusão pura. Sem poesia. Sem vontade. Sem querer.
Foram momentos breves em que a tua solidão tocou o meu desespero e nada mais do que isso.
Agora tenho o meu corpo nas minhas mãos e os olhos fechados.
A partir daqui já sei o caminho.

2 comentários:

  1. ... e nessa possibilidade: a implosão de todos os impossíveis, de todos os actos voluntários e involuntários, de todo o querer e acreditar... tudo rebentou para dentro na serenidade de adormecer, tudo se esfarelou na leveza de um toque, tudo foi ausente na ausência em que tudo está: e todo este penedo que me faz ser erguido, hirto, frio e duro, luta e dá sentido à razão das coisas, mas é impotente contra a erosão do caminho.

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