27/05/2020

Atravessas, descalço, a ponte de pedra que te aparta do dia que foi, em si mesmo, tumulto.
Inalas o silêncio insuportável da noite quente por dentro do corpo lânguido e sentes como as paredes brancas do quarto velho se encerram sobre ti.
Cada segundo que passa, a confirmação de que estás imerso na incontornável imensa comiseração que habita o deserto pela certeza de que nada, aí, pode chegar ao momento certo de terminar.
E é deserto o que a noite hoje te traz.
Vigil, tacteias o escuro que só se encontra por dentro das sombras que abraçam os sonhos lentos, e entoas uma qualquer prece que te possa conduzir ao lugar certo.
Ingénuo, seguras a languidez na superfície da pele enquanto as paredes desabam.
Atravessas,descalço,o deserto que se instalou, lento e quente, dentro da insónia que te beija na escuridão do quarto caído.

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