29/04/2020

tira-me da roupa, 
amor.
despe-me até eu ficar desprovido de tudo o que me é em demasia. 
roda em torno de mim até que a fúria da vida se encha inteira de minha mansidão e aprenda a parar.
preenche-me de noite. depois vaza-me até caber o dia inteiro dentro das ruas que são teus olhos e o meu sonho.
descobre-me, 
amor, 
até que reste pouco
que meu tempo já está surdo e quase, mesmo quase, a chegar ao seu fim. 
seu eu morrer, 
amor, 
segura-me na alma, 
respira-me na ausência, 
despede-te de mim em risos e melodias, 
leva meu corpo por dentro da tua memória até que só sobre o pó e eu permaneça inteiro do lado que fica aquém do conflito do momento que me fez saber a verdade do mundo. 
tira-me de dentro de mim, 
amor, 
e faz-me livre enquanto beijas a minha vida. 

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