27/06/2015

tEla


Estamos a chegar ao mesmo sítio de sempre. Andamos, andamos e regressamos sempre ao mesmo local. Aniquilamos sempre as mesmas memórias. Vazamos sempre as mesmas veias. Agarramos sempre a mesma distância. Sofremos sempre o mesmo desamor. Não importa continuar a tentar.
Pinto as tábuas no chão para saber o caminho. Se caminhar sobre a solidão da noite, talvez já não me perca, talvez já não me iluda. Talvez consiga ver os meus passos a vazar o caminho. Sem sentido. Sem significado. Uma harmoniosa desarmonia da alma no tropeçar do caminho.
Avanço, com a certeza de quem não sabe para onde ir, a temer a queda. A saber, como só quem já desapareceu sabe, que há pouco onde chegar. Não há mistérios que não terminem. Não há luares que não se repitam. Não há dores que cheguem, de facto, ao fim.
Pinto as paredes para reconhecer o lugar onde o embate termina. A parede que cai sobre as minhas asas é a mesma que te escondeu em si. Destroços sobre a tragédia da incapacidade que reside em nós, interminavelmente.
Rasgo as unhas nas tábuas e esculpo as mãos no chão. Para que a noite me conduza no caminho vazo de mim e me encontres, no final da mágoa, como uma harmoniosa tragédia caída sobre a ilusão das memórias rasgadas sobre uma alma exausta de ser, em si mesma, absolutamente nada.

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