10/06/2010

cheiro a chuva

Cheira a chuva.
Das portadas brancas abertas sobre a sala cheia de fumo, cheira a chuva.
A terra molhada a dar o sinal e a levantar a possibilidade de se sentir a liberdade de ser qualquer coisa mais do que o resto que não interessa já continuar a ser. Chuva.
A sala cheia de sombras. De cigarros acesos a desafiar a lei da gravidade e a subir ao tecto que parecia não terminar. Meia-luz. Meia voz. Gente a olhar de frente um qualquer fado escrito nas teclas de um piano ao fundo. Ao fundo o piano que, também ele, cheira a chuva quando encontra uns quaisquer dedos furtivos a desafiar o silêncio com a alma inteira. Uma voz a encher a sala enquanto as sombras todas tentam silenciar as coisas todas que se não podem dizer quando se olha de frente para o que é belo. Tão simplesmente belo.
Cheira a chuva.
Cheirou a chuva toda a noite. E a chuva foi o que se entranhou na pele. Foi o que se entranhou na alma.
E hoje ainda cheira a chuva. E à noite ainda vai cheirar a chuva.
E isso é tudo o que importa quando se olha pelas portadas brancas abertas sobre todas as salas.

Sem comentários:

Enviar um comentário