04/08/2019

LeMe

Tua voz navega-me por dentro. 
Rasga-me do peito a certeza e, lentamente, retira e repõe fragmentos da minha inabilidade de ser mais para além de maré vaza. 
Navega-me por dentro como um barco sem leme, sem vela, sem mar, somente ao dispor do vento.
Sobe e desce na corrente que se ausenta de cada vez que tento tocar no tempo que se me esvai por entre os dedos magros da perfeita insanidade que me habita de perto.
Desce definitivamente na vertigem do abandono da terra em que fui teu porto, em que tu foste areia, em que fomos quase ilha.
Um barco que navega sem leme não tem lugar onde atracar. Não tem tempo para se encontrar. Não reconhece a madeira que o (des)faz. 
Tua voz é um lugar sem âncora numa maré irremediavelmente vazia.

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