04/08/2019

auReo

Estou preso dentro do meu corpo. Não me consigo mover. De cada vez que me enfrento, perco. Cada luta que travo, por dentro, comigo aflito por dentro da minha pele, comigo perdido por dentro da minha ilusão, comigo escondido por dentro da minha solidão. Estou parado dentro de mim. Sinto o sangue a correr, a pele a respirar, a angústia a permanecer. Dói-me no peito e nos olhos a certeza incerta que tenho de mim. Receio partir. Temo cair num lugar de onde não consiga voltar. Esqueço-me das palavras, dos gestos, das vozes, das certezas. Esqueço-me de tudo quando a dor me ocupa por inteiro enquanto grito sem que ninguém me consiga ouvir. As paredes, aqui, nesta sala, demasiado brancas, demasiado frias, eternamente desprovidas de vida. Não me reconheço neste corpo que me aprisiona, nesta voz que me silencia de cada vez que tento cantar, nestas mãos que não tocam se não em ar e pó das paredes que ficam quando o dia termina. Pergunto como posso continuar quando tudo me impele à queda. Como vencer o cansaço que me devasta de cada vez que tento respirar. Estou infinitamente preso dentro de mim a ver-me partir. 

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