19/08/2019

ChiaMatA

Derramei-me na ponta da madeira velha. Foi depois da noite que começou. Tudo a acontecer por dentro do meu pensamento. O mar a embater na ravina. O vento a enfurecer o mar. A ravina a descer de encontro ao inferno que arde por dentro de mim. 
Vazei-me na aresta de um copo cheio. 
Dancei nas lágrimas da noite que passou pelo meu corpo sem me dizer sequer o nome. 
Não ouvi o meu nome. Chamaste por mim?
Sinto a madeira a abraçar-me no corpo. Detém-se. Contém-me. Amarra-me nas mãos, nos pés, no peito, enquanto o delírio me consome, me desfaz em chamas, me leva a embater contra a ravina, me sopra no vento ao ouvido um nome. 
Chamaste por mim?
Não ouvi meu nome.
Ouço a madeira cantar-me a noite ao ouvido. Até que a manhã me traga de volta ao mar de mim. 

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