31/10/2010

Podes passar a lâmina pelos meus dentes. Já não faz diferença.
Podes passar o ferro quente nas minhas costas as vezes que te apetecer. Já não tem importância.
Podes deixar-me de frente para ao muro que eu não vou abrir os olhos desta vez. É indiferente para onde me viras. Onde me deixas. Onde me abandonas.
Esquece-me quando começares a andar. Não te lembras? Já não estava aqui desta vez. Já não estava aqui desde a última vez. Já não era eu. Porque não te lembras?
Mente o resto das palavras que faltam na frase que me vai completar.
Honestamente que não quero saber o que falta porque o que falta já não vai trazer nada de novo a este resquício de tempo que guardo no sangue que me escorre da língua.
Passou tempo demais e eu agora, desde há muito tempo, que não consigo.
Confundo-me na vontade, nas palavras, nos gestos. Confundo-me na dança, atrapalho-me nos movimentos, esqueço as linhas que devia seguir e deixo cair tudo no chão. Ando dois passos tão rápido como recuo três. Agora acabou. Nem sequer vale a pena tentares de novo porque eu não vou ver nada.
Vou estar virado de frente para a merda do muro de olhos fechados à espera que o tempo acabe de me torturar.


Sem comentários:

Enviar um comentário