03/10/2010





As casas estão tapadas com panos pretos nas janelas. Cheira a cinzas. Cheira a solidão quando atravesso a rua.
Os passos estão parados. As pessoas amontoam-se junto à berma. Não na estrada. Permanecem na berma na esperança vã de que algo os venha tocar nas faces arrefecidas. Cada um mais só de que o outro. Juntos, no mesmo espaço fingido, e ninguém se entreolha.
Faz frio aqui. Faz frio antes de chegar à água. Atravesso as ruas sozinho. Mais ninguém vem. Mais ninguém olha o resto do caminho.
Junto ao rio, todas as pedras escorrem sal como se o sal fosse tinta como se a tinta fosse pele.
A possibilidade do sonho é uma arma dirigida ao pano preto que me cobre os olhos. O dentro. Esvazio-me enquanto ouço a água a avançar.  

Cobre-me com panos pretos e encerra as janelas. Não quero mais atravessar nenhuma rua.



Sem comentários:

Enviar um comentário