07/10/2010

ra.va.ge.

Se pudesse, segredava-te no corpo que me dói tudo aquilo que deixei acabar aqui. E, logo de seguida, gritava-te dentro do vazio que sobra em mim, até sangrares nos dedos. Colocava meu escutar sobre a tua boca e esperava que fechasses os olhos e dissesses…
dissesses…
que…dissesses…
Levava os dedos ao teu olhar fechado para que me visses a desaparecer e dissesses…e…
Despia a roupa toda na noite gelada – faz frio aqui, lembras-te? – e esperava que abrisses a boca para me veres quebrar e dissesses…
Se pudesse, segredava-te nos dedos a que sabe o meu sangue e não esperava, mais, que me olhasses nos olhos e fechasses a boca no silêncio sepulcral que só tu podes saber.
Se pudesse, obrigava-te a gritares dentro do meu vazio que já não há mais nada que me possa doer. Que dissesses…
que dissesses…
que
agora
não
vai
doer.

Mas só estou eu aqui. Lembras-te?

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