10/07/2010

Não tem nenhuma importância o tempo. Os dias e as noites sucedem-se como deve acontecer. Como sempre aconteceu. Com maior ou menor rapidez o tempo foi-se sucedendo e hoje chegámos aqui. No fundo, o mundo é capaz de ter uma ordem pré-estabelecida. Ou qualquer coisa de aproximado. Ou nada do género mas, em boa verdade, a vida acontece no espaço efémero em que o dia e a noite se tocam.
Hoje olho para mim e encontro tão pouco. Olho para a ausência de ti e vejo o caminho inteiro que eu fiquei por percorrer. E talvez tenha medo. Talvez não saiba bem onde estou. Talvez não consiga reconhecer, com precisão, o lugar que ocupo aqui.
Tu não estás aqui. Não estás aqui há tanto tempo que dentro do meu sangue e da minha pele parece uma eternidade – como se a eternidade se pudesse sentir como algo de mensurável – mas foi tudo ontem. Foi só ontem. Foi hoje. Agora. Neste preciso momento em que sinto tudo a desaparecer. Em que tento segurar a fugacidade dos momentos nas mãos e não sei agarrar nada.
Tento respirar. Tu sabes que eu sempre tentei respirar como se o ar fosse aquele que só passa no cimo das montanhas. Pequeno, rarefeito, cheio de ausências.
Mas olho para mim e não vejo o que me falta. Sei que sou tudo o que não sei ser e essa é a pior parte de mim e tu, tu eras a melhor parte de mim e agora eu sou pouco. E isso, na maior parte dos dias não me chega. Na maior parte das noites não me satisfaz.
Não sou aquilo que era suposto ser. Não chego a ser aquilo que era previsto. Depois de ti deixou de haver lugar para mim.
Ainda hoje escavo com os dedos em ferida a terra e as folhas e o húmus à procura do que me falta. Às vezes tenho a certeza que não vou encontrar mais nada. Às vezes acredito que vou saber procurar melhor no dia seguinte. Às vezes não sei rigorosamente nada.
O tempo tem toda a importância que eu lhe consigo dar. Hoje sei que vai ser tudo tão magoado como tem sido até aqui. Vai sendo cada vez menos. Vai acontecendo tudo cada vez com menor incapacidade. Mas quando fecho os olhos vejo os teus. Sinto o teu cheiro como se estivesses nas minhas mãos.
Deixo de existir no dia que te perder daqui.
Mas mesmo assim não estás. Não estás aqui há muito tempo. Fiquei eu a procurar o que me falta do caminho. Fecho os olhos para acreditar que vou conseguir olhar para ti de frente e sentir que me seguras as mãos outra vez. Fecho os olhos. Conto os dedos. 9.
Sabes que me resta pouco. Por mais que tente. Por mais que julgue ser capaz. Sabes melhor que ninguém quem eu fui até ti. E guardas o segredo na tua pele. Nas tuas mãos fechadas. Nos teus olhos negros a desenhar-me em asas de anjos dourados. E isso vai ter de continuar a bastar-me. Mais um dia. Mais uma noite. Até eu desaparecer.

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