30/03/2023

GaRgalHaDa nO eScUro

"O amor é 

uma palavra 

suada 

entre os meus dedos"

Ondjaki


Se o amor é uma palavra suada entre meus dedos, são minhas mãos a prova da essência que soa, ressoa e entoa quando ouso segurar-te na pele.

Trago nas mãos a palavra que te guarda do interior de minha alma. Trazes na água a antítese da tese sintetizada onde tudo é irremediavelmente intransponível. 

Se te dissesse as letras da palavra sem ser no suor dos dedos, iria chegar-te à garganta um grito ácido que se corroeria por dentro e te iria impelir à fuga para mar alto. 

Há almas que nasceram na gutural eterna insatisfação de não ser possível tolerar ser-se amado. Nem no suor dos dedos, nem no sangue das palavras, nem na profundidade dos gestos guardados no sentido das mãos

És meu alimento quando vens. Meu naufrágio quando partes. Meu alimento quando partes. Meu naufrágio quando chegas.  Queria poder dizer-te palavras que suam como lágrimas e soam como preces. Não digo. És profeta e herege. Salvação e condenação. Bênção e pecado. Não te posso dizer. Pois queres tanto quanto não queres. Podes tanto quanto não podes. Desejas tanto quanto não desejas. Começas tanto quanto terminas. Terminas tanto quanto começas. Tens tanta vontade de chegar como a vontade que tens de partir. 

E eu permaneço na silenciosa intenção de ir em busca das estrelas que brilham na gargalhada que desperta do âmago da escuridão que te habita a alma. 



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