29/03/2023

Entranço o cabelo.

Dispo-me das roupas. Devagar.

Desfaço-me do dia. Sem sentir pressa.

Lavo a pele fendida nos ganchos que me sustêm até não sobrar sangue.

Deito-me no chão frio da madeira que sustenta o grito do inverno e permito-me desaparecer no som dos passos que ecoam no ranger do caminho.

Sei que não poderei mais regressar. 

Aceito. 

Fecho os olhos. 

Entrego-me ao silêncio da noite. 

Até que minha pele se funda com a agonia da madeira e nada, depois do vento do norte sibilar, possa sobrar.

Sem comentários:

Enviar um comentário