20/05/2022

Há sangue na estrada. Há sangue dentro do calor que ascende do asfalto pregado nas rugas desta cidade envelhecida. Sinto o corpo a adoecer e não consigo segurar nada nas mãos. Sou feito de água. Sou feito de nada. Tenho os braços abertos para me segurar mas "braços abertos não agarram nada"...

Há sangue a sair de dentro de mim. Sei que vou perder a voz. Sei que me vou perder de mim. Sei que devia ter parado antes de cair no calor desta estrada mas não o quis. Agora sou eu o sangue. Agora sou eu a pele enrugada da cidade. Agora está em mim o princípio do fim.

Abafo o grito na água. Fecho os braços para segurar o sangue. 


Cheguei tarde.

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