30/01/2021

tenho  um lábio a sangrar. a pele dormente, a certeza da tua chicotada a dançar-me na memória_ou na pele?

espera um pouco. será que podes voltar_ atrás? recomeçar? voltar ao início de todas as coisas? 

podes escrever tudo na parede _ de novo _ com o sangue que me despe a boca que canta teu nome, para eu não poder esquecer o caminho de volta? 

será que podes dizer o que disseste antes de dizeres o que acabaste de dizer? a dor que permanece depois da tua mão, aniquila a minha capacidade de entender o que fica por debaixo da melodia do teu grito. repetes?

fecho os olhos e sinto a voz da tua mão a desafiar o vento_ o tempo_ e a cair no lugar onde antes eu tinha um sorriso onde poderia caber o lugar inteiro do mundo...

se pudesses esperar o suficiente para eu recuperar o fôlego, eu conseguiria ouvir. sabes, é que a forma como tua voz me arrastou para o chão foi a forma como as tuas mãos puderam dizer o meu nome.

recupero parte de um fragmento que pertence à capacidade do acto de respirar. apenas uma parte.

tenho o peito a sangrar do rio que me escorre da boca despida. as tuas chicotadas permanecem a desfazer-se na minha pele até que sinto o mundo a desaparecer de debaixo de meus pés. 

talvez agora já não sinta nada. já não consiga dizer nada. talvez seja melhor, apenas, dizer-te que vou parar de respirar. 


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