O momento em que tomas consciência do teu corpo, é o momento exacto em que o sentes a ceder à dor. Tal como um amante submisso cede, de imediato, a todas as provocações e todas as provações que o amado lhe solicita ou lhe impõe, em silêncio ou gritos desmedidos. É aí o momento, quando compreendes que tudo é nada e nada pode ser sempre tudo.
O momento em que sentes a certeza da agonia é quando cedes à consciência. A possibilidade da morte é o teu lugar de desprendimento. O teu lugar de arrependimento. O teu momento de solidão, absolutamente perfeito. O juízo final em que te assumes na derrota e podes serenar.
O momento em que o corpo te ocupa por inteiro e percebes que pouco podes escolher. Talvez seja a vida que te escolhe. Talvez tudo o que és, ou o que podes vir a ser, não dependa inteiramente de ti mas de onde o teu corpo te vai possa permitir ir. Te possa permitir ser. Te possa deixar fazer.
Tudo pode ser nada e nada pode ser sempre tudo. Dentro das provações. Dentro das provocações. Dentro e fora de ti.
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