Fecho os olhos para te sentir as asas.
Coloco todo o meu pensamento na ponta dos dedos.
Se respirar fundo, sinto tudo como se estivesses no lugar de mim. Acaricio tuas penas em toda a sua longitude. Deixo-me cair na sua profundidade, estendo-me inteiro no seu comprimento. Um mar marmóreo que se estende a meus pés e em que me deixo afundar sem medo da invocação do abismo. Se respirar fundo, ouço a tua voz a sair de dentro do tempo como um grito indelével que reconhece o caminho de escarpas que te traz até ao lugar em que eu me despenho.
Deito-me para te saber do meu lado e são as tuas penas - as tuas mãos - que te seguram por dentro, na alvorada que só tu permites conhecer. Permito-me a queda, ainda que apenas por breves momentos, enquanto a ebriedade que baco derrama sobre minha vontade me permite amar como se o mundo fosse terminar neste preciso momento. Deito-me a teu lado como se aqui estivesses e eu te pudesse saber no interior da tua - infinitamente - presente ausência.
Fecho a voz para te saber nas penas.
Fecho as penas sob os dedos para te saber no silêncio.
Fecho o silêncio para me saber aqui.
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