06/01/2020

Respiro a saudade do momento exacto em que ensandeci.
Recordo como tudo foi claro, 
como tudo em mim encontrou sentido, 
como todas as palavras se alinharam no poema, 
como todos os fragmentos de meu corpo se entregaram, sem medo, nas asas do mar.

Reflicto, agora, a pureza do lugar preciso em que perdi a memória do outrora.
Aquilo que fui, tudo o que havia no antes, 
remetido ao mais longínquo exílio,
ao mais profundo dos aniquilamentos,
o mais recôndito dos lugares que podem ser lugar. 

Respondo o silêncio que o mundo me entrega sobre as mãos, do mesmo modo que a paz responde aos ventos bélicos: 
a repetir meu nome,
até que a exaustão tome posse de vós e vos conceda um sofrimento semelhante ao que persiste em mim. 

Mergulho, enfim, na certeza da serenidade que repousa nas asas renascidas em meu corpo e seguro-me no lugar mais insano que reconheço
completamente,
como o único em que posso, 
verdadeiramente,
existir.  

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