26/01/2020

pArtIr

deito as mãos no rio enquanto partes.

se te olhasse agora, sabia reconhecer que nunca estiveste - verdadeiramente - aqui.
se te olhasse a sair, saberia como nunca tinhas chegado a chegar aqui.


mas a verdade é que te não olho.

olhar-te seria ter de me ver a mim e tudo o que permiti que acontecesse aqui
e isso seria como cravar a água inteira do rio - gelada - por dentro do meu sangue 


até eu desaparecer. 


por isso deito as mãos no rio na esperança vã que todo o meu corpo parta na maré do princípio da manhã
e que tudo o que me trouxeste ao lado errado de mim, desapareça nos primeiros raios de luz que trazem a possibilidade da salvação nas asas da sua verdade.

se te olhasse agora, seria eu inteiro como um rio porque me desfaria em lágrimas frias da maré do que houve no lugar do meu sentir de ti
até tu me condenares ao lugar mais solitário de todos - aquele em que nos enganamos e nos perdemos de nós na consciência fera de termos visto tudo sem querermos ver nada. 


deito as mãos ao rio enquanto me gela o sangue
e parto nas ondas da maré,
até começar em mim um novo dia.

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