24/09/2019

pASsé

O passado dança sobre a pele como se a vida não tivesse, nunca, a possibilidade do fim. Enquanto caminhas por sobre a terra árida que este lugar se tornou, evitas tropeçar nas asperezas de teus arrependimentos. Tacteias, com os pés descalços, as inseguranças que te trouxeram até aqui e seguras, de cara erguida, as certezas que te completaram. O passado está vivo dentro desta casa que morre devagar. Em cada divisão, em cada fragmento de madeira, de vidro ou chão, há resquícios de ti, do que foi a tua vida, do que te trouxe até aqui. Há um odor consistente a livros velhos, linho rasgado e almas antigas. Sente-se, em cada espaço, força e maldade, amor e guerra, paixão e desesperança. Caminhas de frente para ti, na aridez de seres tudo o que és e de seres ainda tanto por ser e tão pouco que és, aqui, neste exacto momento. 

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