olho o mundo no caminho dos passos. o vento não
cessa de me abandonar de cada vez que cedo a cair. queria poder tocar nas asas
do vento e destruí-las. queria poder tocar nas ansas do tempo e rasgá-las.
como se rasga a carne, como se abrem as feridas, como se morre morrendo, como
se entoa um cântico. queria poder tocar-me de cada vez que cedo à gravidade e
quedo, mas o corpo fica longe da minha mão. não me toco de cada vez que me
abandono e estou cada vez mais longe do lugar onde deveria estar. olho o mundo
como se estivesse a cair e na verdade é o tempo que me empurra e me deserta. queria
poder destruir-me no tempo como se destroem as asas de pó que navegam o vento. queria
rasgar-me na certeza de que amanhã a ferida estaria aberta para depois se
fechar sem ter me tocar. ou cair nas ansas do tempo e fechar as mãos tão longe
do meu corpo de pó quanto fosse verdadeiramente possível.
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