09/04/2015

dUst


olho o mundo no caminho dos passos. o vento não cessa de me abandonar de cada vez que cedo a cair. queria poder tocar nas asas do vento e destruí-las. queria poder tocar nas  ansas do tempo e rasgá-las. como se rasga a carne, como se abrem as feridas, como se morre morrendo, como se entoa um cântico. queria poder tocar-me de cada vez que cedo à gravidade e quedo, mas o corpo fica longe da minha mão. não me toco de cada vez que me abandono e estou cada vez mais longe do lugar onde deveria estar. olho o mundo como se estivesse a cair e na verdade é o tempo que me empurra e me deserta. queria poder destruir-me no tempo como se destroem as asas de pó que navegam o vento. queria rasgar-me na certeza de que amanhã a ferida estaria aberta para depois se fechar sem ter me tocar. ou cair nas ansas do tempo e fechar as mãos tão longe do meu corpo de pó quanto fosse verdadeiramente possível.

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