Quando chegar, vou dizer-te que o
mundo acabou. Sei que ainda não sabes, mas o mundo acabou. O que encontras
dentro da tua imagem não és tu. É apenas o delírio do resquício do que foi em si
e já não é mais nada. Quando chegar vou mostrar-te que, afinal, eras tu quem
não estava aqui. Eras tu que não estavas no lugar certo quando o mundo morreu. Por
isso não viste, por isso não soubeste. Escutas as vozes que gritam dentro de ti
e perdes-te na certeza incerta de seres tu e o outro, e os outros que são em ti
sem que queiras, para deixares de ser tu e passares a ser apenas aquilo que
resta quando paras de sentir. Quando eu chegar não estou seguro de que te vou
encontrar. Mas se o mundo morreu, tenho de chegar até ao lugar que ocupas em
mim para podermos sobreviver. Vou ser a outra voz dentro de ti que te serena e
te diz que, afinal, quem morreu foste tu e o mundo é tudo o que acontece lá
fora, onde tu já não podes estar.
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