29/11/2010

nEoMe

Não tenho permissão para atravessar o barro. Está coberto de listas negras e listas brancas e não posso passar. Não tenho permissão para dar nem mais um passo. As paredes estão a obrigar-me a recuar desde ontem, desde hoje, desde sempre. Sabes que nos sonhos são cobras e serpentes que passam sobre as memórias ridículas das coisas que suposto era terem acontecido? Recuo na certeza de que os pés vão falhar a velocidade certa e que vou ruir sobre a areia. Mas a neve vestiu o chão de listas negras. A parede a chegar até ao lugar onde eu juro que já não queria estar, juro, e não tenho forma de me suster de pé. Imagino que esteja frio o chão. Imagino que estejas frio no chão. Coberto de barro, não, coberto de neve. Sabes que está a nevar aqui dentro? Neva enquanto as paredes se deslocam num espaço que, rapidamente, deixo de reconhecer como meu. Tacteio tudo com a língua na aspereza da terra fria e sei que vou esquecer o meu nome e tudo o que vem antes. Não posso passar daqui. Espero que a neve trave o avançar desta corrente, não, desta parede de barro que agora me cobre os cabelos de tinta branca. Estou certo de que vou cair em breve. Juro que não queria. Tento – apesar de saber como qualquer movimento nesse sentido não só pareça ser perfeitamente ilusório, assim como é inteiramente desnecessário ou evitável de uma forma extremamente coerente dado que não é possível contornar a inevitabilidade da queda de um pé despido sobre a primeira neve – tactear com o que resta do sangue a possibilidade de me segurar seguramente na parede insegura que me tem feito recuar. Não tenho permissão para tentar mais nada. O barro está coberto de listas brancas e de listas negras e em nenhuma delas aparece, nunca mais, no meu nome.
Qual é o meu nome?

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