23/11/2010

chuva ardida

Estou e é como se não estivesse. Talvez não esteja mas esteja sem estar. Posso não estar, efectivamente, e isto seja tudo mero delírio. Ilusão. Memoria errada de um movimento errático. Ébrio. Vazio.
Sou o que resta da tua ausência. Sou o que sobra depois da chuva ardida. Sou o momento exacto em que as coisas param de ser. Posso até estar mas não estou.
Estou no lugar das coisas que já não estão e não sei voltar a estar nas coisas que são qualquer coisa outra que não isto.
Sou o gesto sem tempo. O tempo sem pele. A pele sem cor. A cor sem espaço. O espaço sem lugar. O lugar sem terra. A terra sem vida. A vida sem tempo.
Sou as cinzas do que queria ser e atirei-me ao mar. Estou mas é como se não estivesse.


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