26/12/2023

Sinto que há uma besta alada de angústia a percorrer-me inteiro por dentro do sangue. Não sei como nomeá-la, não lhe reconheço a forma, não chego a entender os contornos dos seus limites nem consigo segurar o exacto momento em que começou a voar em mim. Mas traz nas suas asas um sabor às coisas que findam antes do tempo. Parece trazer um fim sem que me tenha sido permitido, sequer, um rasgo de princípio. Ela navega-me ao ponto de não conseguir voltar a tocar terra firme. 

Tudo é areia. Tudo é água. Já nada parece ser seguro e eu não tenho asas.

As sombras da noite parecem resvalar nas arestas dessa angústia e invadem, de asas abertas, as portas dos meus sonhos.

Já nem sei bem de onde vem o fogo, o fumo, o suor, este aroma a sexo aberto sobre a minha fantasia moribunda.

Quero parar e esperar por mais. Saber até onde posso chegar. Talvez saber onde poderei respirar. Saber, exactamente, onde vou terminar. De olhos fechados. De mãos abertas sobre o barro. 

Acabo por permitir que esta besta veleje por mim adentro, até eu já não me recordar mais do que trouxe a este lugar. 





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