13/06/2022

Tenho nos braços o aroma das cores com que se despe a nostalgia que reside nos céus dos fins de tarde de uma sobra anunciada de um setembro cansado.

Atravessam-me memórias do que foi, do que fui, outrora, e sempre a pairar no ar quente que o norte soprou para assolar estes céus uma qualquer ...todavia.
Podia ter feito um poema nas tranças das palavras que ontem me foram ofertadas por uma existência de que não sou merecedor. Mas não mereço as palavras. Não mereço o poema que se desenhou nos dedos de tinta. Não mereço o que a vida me entrega assim.
Não sou merecedor do jardins, por isso caminho no breu ensurdecedor da estrada vazia.
Não sou merecedor do poema, por isso é rocha o que escavo dentro das palavras.
Não sou merecedor dos fins de tarde, por isso me precipito, que nem borboleta estovada, para o princípio da noite.
Sou, neste momento, a antítese,  a contradição,  o oposto de tudo o que deveria ser. Era este o momento... e tudo se tem vindo a quebrar, desfazer, fragmentar, sem que eu consiga travar esta espiral de horrores que acontece por dentro. Este era o momento do começo do auge de minha existência e agora tudo é uma parábola a pender para a tragicomédia medida pela inegável e inexorável incapacidade de realizar qualquer acto de forma correcta.
Balanço no lado errado de tudo. Na aresta que tem a lâmina afiada. No lado do frio. No lado do breu. No lado errado do abismo invocado. No lugar inexplicável do erro peristente.
O deserto abandonou-me.
O mar abandonou-me.
Já sobra pouco e é cada vez mais difícil sair destas areias.
Sou lodo agora. Somente e apenas lodo putrefacto onde as árvores morrem sempre em formas estranhas. 

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