Sabes,
há uma dor que se instala no ventre e arranca o que está lá por dentro. Não consigo agarrar nada do que está a morrer...
Não dá para mudar o lugar das coisas que cristalizam dentro das coisas que já foram coisas e que deixam de ser, em si mesmas, o que quer seja.
No fundo, entendo tudo o que desfalace e desaparece nas entrelinhas do que não se diz, do que não se sabe, do que se finge saber e do que se omite.
Avanço pelo asfalto levando os pés e as mãos despidas a olhar tudo o que duvido de frente. Levo o sangue a obedecer cegamente à gravidade e a misturar-se com as águas frias do rio que traz tudo o que ainda não sei.
Tenho o lugar das coisas que guardo por dentro, esventradadas na chaga reservada ao ardor da traição.
A ilusão do sentido que reside dentro da invenção do equilibrio é o que desiquilibra a ordem das coisas. Tudo é mutável. Nada dura para sempre. Mas o lugar das coisas, esse não muda.
Sabes,
apetece-me dançar de olhos fechados no lugar mais fundo da noite enquanto os pássaros embatem nas janelas da minha dor e se desfazem na ilusão de que podem retomar um voo que deixou de ter lugar. Será que alguma vez soube voar?
Morro esventrado a dançar de asas abertas de frente para o muro onde escrevo, em sangue, a verdade do que não consigo segurar.
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