28/02/2021

estou de frente para o espelho a fingir que queria viver uma história de amor. escorrem pela minha pele as certezas da finitude e a angústia das coisas por terem sido coisas que não chegaram a ser senão nadas. vejo e revejo e são apenas sombras o que fica. a casa a meia luz. meus olhos às cegas. 

caminho descalço e sorrio enquanto me forço a convencer-me de que é este amor o que verdadeiramente desejo. uma verdadeira história de amor. antes de morrer, quero uma vida de amor. um momento eterno em que amo e sou amado e mais nada pode ter importância. até que a vida termine e mais nada possa permanecer depois disso. 

dispo-me de frente para o espelho. faz frio nas sombras desta casa. minha pele cheira a tristeza. meus dedos cheiram a sexo e a fumo. meus braços abertos não seguram a certeza que emana de dentro de minha alma e que sabe ao sabor do teu beijo, que cheira ao odor da tua verdade. forço-me a respirar-te inteira dentro do corpo para fingir que te amo. 

serias o crime perfeito. forço-me a acreditar que era contigo que eu viveria a história não escrita de um amor que não desejo. serias a desculpa perfeita. a desculpa perfeita para um amor imperfeito

 pois jamais me poderias amar. 

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