15/06/2020

rEpTo

seguro a ânsia nas mãos enquanto meu corpo inteiro se incendeia. 
penso como seria fácil levar tudo até à aresta do abismo, fechar os olhos e deixar-me cair. 
como seria rápido, breve, intensamente imediato, atirar tudo para o limite que vem com as coisas mais simples e ver tudo desaparecer na manifesta impossibilidade de retorno. 
penso como seria tão docemente inequívoco entregar tudo nas mãos do impulso e permitir ao desejo queimar tudo. até não poder sobrar rigorosamente nada. 

"Amamos mais o desejo do que o ser desejado"dizia Nietzsche. Amaremos verdadeiramente o desejado quando o desejo é o que nos consome por dentro e nos alimenta?
será o desafio de querer ter o que se deseja, o que inevitavelmente se impõe à alma? 
ou pode a alma ser o que se impõe à angústia que reveste a pele do corpo? 

és tu quem eu desejo ou o é o desejo que tenho por ti o que eu verdadeiramente desejo?

arrisco chegar próximo de uma prece...uma que me serene as chamas por dentro, que me devolva a mim, que me recoloque no lugar de ser.
desafio a impossibilidade da verdade materializada no momento certo e procuro forma de remeter tudo o que desejo para o lugar mais distante da minha pele. 
pego no fogo que me devastava por dentro e queimo tudo, 
os pensamentos
as imagens,
a ânsia, 
a tentação, 
a névoa,
os sentimentos, 
a certeza das tuas mãos, 
na distância que só quem precisa aprender a amar sabe encontrar dentro das cinzas de uma solidão esmagadoramente essencial.  

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