06/09/2010

estilhaço

Não consigo falar contigo.
Está aqui uma parede
de betão,
não,
de ferro,
não,
de aço,
não,
de fogo,
não,
de lama,
entre as minhas palavras e a tua capacidade de escuta.

Estou cansado.
Quero que saibas que estou cansado e que esta noite vou desistir sem tu saberes que eu desisti.
Estou tão exausto que não sinto os pés, não preencho a pele, não reconheço os restos dos meus restos.
Esta é a noite em que eu desisto de continuar a tentar. Não sei mais. Ninguém me estende as mãos à terra e me faz compreender. Ninguém transpõe o muro que
talvez,
de certa forma,
não seja o teu,
mas
o meu,
e o meu seja,
de certa forma,
idealmente,
muito maior que o teu.

Estou cansado.
Tenho lágrimas feitas de sal a escorrer-me nas chagas que me são os olhos.
Não quero ouvir mais nada hoje.
Não quero ver mais nada esta noite.

Sabes,
quero que saibas que desisti de tudo
mas não o vais saber.
Não,
não queres saber.
Não,
não vais saber do muro,
não vais escutar nada,
enquanto eu partir,
enquanto eu me desfizer
em lama,
não,
em fogo,
não,
em aço,
não,
em ferro,
não,
em betão,
não,
em chuva.
Enquanto eu não me desfizer em chuva.

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