10/09/2010

devolutus

Ainda me lembro de ti, quando atravessavas a noite até ao fundo para me encontrares. Atravessavas as ruas ébrias e sujas e cheias para chegares até mim. Fosse a que horas da noite fosse, tu perscrutavas a escuridão até me veres.

Ainda me lembro da forma como as tuas mãos me seguravam no vazio e de como eu quase aprendi a fechar os olhos. Por entre o que restava do suor e do dia, a tua língua a saber-me as palavras que eu podia não dizer.

Às vezes consigo lembrar a que sabia o cheiro de ti, do teu corpo, do teu hálito quente a padronizar-me a pele. Se tentar com vontade, consigo chegar até à memória das noites de verão quente em que os nossos restos se fundiam, se diluíam, se consumiam como se o mundo fosse terminar aqui. Aí. Depois de nós.

Se quisesse, lembrar-me-ia do teu nome, dos contornos da tua face, da languidez dos teus dedos.

Se pudesses chegar ao fim desta noite, depois das ruas que são vazias antes de mim, gostaria de saber que nome te lembrarias de me chamar.

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