17/01/2010

10

Não cessa de chover aqui. Os carros aceleram junto às marcas de água enquanto os dedos sangram. Há luzes e sons que não se podem compreender. Um. Dois. Três vezes que contornam a pele os dedos. Três. Quatro. Não me deixes. Cinco. Aqui. Agora que cheguei mesmo ao fim do caminho. Seis. Sei que não precisas de mim mas não agora. Por entre as árvores não há espaço para o meu corpo. Feito de terra. Coberto de lama. Deixo o sangue dos dedos cair e vejo como se dissolve na escuridão. Parece-me que desistes agora. Sete. Torna-se evidente. E eu a evitar crer. Eu a iludir-me mas a água aqui está demasiado fria para me perder numa qualquer irracional imagem onírica de que tudo irá terminar bem. Oito. Sou o que resta do corpo que atiraste à terra. O sangue dos dedos é o sangue da pele inteira. Da boca. Dos olhos que não choram. Nove. Vai. Nove. Vai. Não vai nunca mais parar de chover. Eu na linha de água a derramar o sangue na terra. Dez. Porque tu desistes.

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