Fui lá fora para ouvir. O vento.
Saber que dizia o vento. Ouvir.
Abracei a tempestade e agarrei a chuva com as mãos fechadas.
Nunca tive coragem de medir quantas coisas podem caber dentro de uma mão fechada. Nem o que pode ficar.
Numa mão que se fecha, há grades ou liberdade?
Vou perguntar ao vento.
Vou arrancar a verdade à tempestade com meu abraço enferrujado, colérico, infernal. Vou tentar saber o que falta.
Nos caminhos frios da noite, cairam muros e árvores e rochas e lama e flores e carros e rios e almas. Cairam pela noite dentro, pelo vento adentro, no coração da intempérie, sem fé nem amarras nem tempo nem sombras de qualquer possibilidade de salvação.
Vou escutar o vento.
Saber porquê. Saber porque partem as coisas, as das mãos fechadas e as que não cabem nas mãos.
Vou ficar cá fora, pelo vento adentro. Talvez me leve por mim afora.
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