17/01/2024

Fui lá fora para ouvir. O vento. 

Saber que dizia o vento. Ouvir.

Abracei a tempestade e agarrei a chuva com as mãos fechadas. 

Nunca tive coragem de medir quantas coisas podem caber dentro de uma mão fechada. Nem o que pode ficar. 

Numa mão que se fecha, há grades ou liberdade? 

Vou perguntar ao vento. 

Vou arrancar a verdade à tempestade com meu abraço enferrujado, colérico, infernal. Vou tentar saber o que falta.

Nos caminhos frios da noite, cairam muros e árvores e rochas e lama e flores e carros e rios e almas. Cairam pela noite dentro, pelo vento adentro, no coração da intempérie, sem fé nem amarras nem tempo nem sombras de qualquer possibilidade de salvação. 

Vou escutar o vento. 

Saber porquê. Saber porque partem as coisas, as das mãos fechadas e as que não cabem nas mãos. 

Vou ficar cá fora, pelo vento adentro. Talvez me leve por mim afora

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