23/05/2023

vejo-te as lágrimas caídas sobre a madeira que reveste a mesa. 

talvez não haja, de facto, fim para o que se sofre por dentro da voz, no interior mais fino das planícies desérticas da solidão. 

a sombra das coisas que foram coisas antes de serem apenas as sombras das coisas que eram, vertem seus silêncios, em segredo, por entre os veios tristes da madeira velha. 

não há nada que nos segure a queda. nem a liberdade. nem a gravidade dos gestos. só a força dos agueiros. só a paixão do apelo quente do abismo. mas nada que nos segure nos braços. 

vejo o que permanece distante no reflexo triste das tuas lágrimas. 

não há palavras

nem gestos

nem madeira

nem água

que possa calar o silêncio das sombras. 

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