21/05/2023

Tenho-te nos braços quando acordo só e me imagino à deriva. 

Trago-te na saliva quando a apneia me reduz ao sentido da asfixia.

Levo-te nas mãos quando mergulho na altura inteira do mar que me esconde das marés. 

Guardo-te sobre a epiderme para me vestir da tua essência e conseguir respirar.

Inalo o aroma da tua voz e deixo ecoar dentro de mim toda a gravidade solene da poesia que reside na melodia de ti. 

Olho os outros que se movem na correnteza suja da cidade e penso como sou indiferente à névoa de cinza que se abate sobre o tempo.

Tenho só a pele dos braços quando acordo à deriva, no mar alto de cinzas apagado, sem me lembrar de como respirar.

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