17/07/2021

noTe

Das janelas viradas a sul, 

de frente para a noite aberta,

ouço as vozes que se desprendem de corpos leves, 

estranhos, 

alheios a mim e

distantes do lugar em que me sei. 

 

Vozes que entoam risos, 

ébrios ou reais, 

melodias, sons, tons e texturas 

que não sou capaz de reconhecer e

que, 

talvez, 

não saiba sentir. 

 

Penso que talvez sejamos o que a nossa história

- tudo o que nos antecede antes de sermos nós mesmos -

nos faz ser,

nos permite ser,

nos induz a ser, 

nos ilude a ser,

e talvez tantos de nós, 

justa ou injustamente, 

não possamos nunca saber a real possibilidade da dimensão do mundo

de tudo o que é além de nós,

do que está além de cada janela aberta. 

 

Talvez sejamos todos um lugar de silêncio

e um lugar de risos, 

um espaço de tempo de parar

e um espaço de tempo para calcorrear as estradas dos caminhos da vida.

 

A verdade é que muitos paramos na beira da estrada

no fronteira limítrofe que não vemos mas sabemos,

com toda a certeza que se reconhece nas coisas imutáveis, 

estar ali. 

Deixamos de saber que

a montante, 

somos nascente e

a jusante, 

podemos ser rios a correr até aos lugares mais distantes de nós. 

 

Das janelas viradas a sul, 

de frente para a noite quente,

reconheço que existem

sempre

outras (im)possibilidades em nós. 

Sem comentários:

Enviar um comentário