Das janelas viradas a sul,
de frente para a noite aberta,
ouço as vozes que se desprendem de corpos leves,
estranhos,
alheios a mim e
distantes do lugar em que me sei.
Vozes que entoam risos,
ébrios ou reais,
melodias, sons, tons e texturas
que não sou capaz de reconhecer e
que,
talvez,
não saiba sentir.
Penso que talvez sejamos o que a nossa história
- tudo o que nos antecede antes de sermos nós mesmos -
nos faz ser,
nos permite ser,
nos induz a ser,
nos ilude a ser,
e talvez tantos de nós,
justa ou injustamente,
não possamos nunca saber a real possibilidade da dimensão do mundo
de tudo o que é além de nós,
do que está além de cada janela aberta.
Talvez sejamos todos um lugar de silêncio
e um lugar de risos,
um espaço de tempo de parar
e um espaço de tempo para calcorrear as estradas dos caminhos da vida.
A verdade é que muitos paramos na beira da estrada
no fronteira limítrofe que não vemos mas sabemos,
com toda a certeza que se reconhece nas coisas imutáveis,
estar ali.
Deixamos de saber que
a montante,
somos nascente e
a jusante,
podemos ser rios a correr até aos lugares mais distantes de nós.
Das janelas viradas a sul,
de frente para a noite quente,
reconheço que existem
sempre
outras (im)possibilidades em nós.
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